html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> "...estórias...do Fogareiro": julho 2004

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quarta-feira, julho 28, 2004

O dia da Revolução

1974
Trinta anos depois,recordo o dia 25 de Abril de 1974.
O céu estava carregado de nuvens negras nessa manhã,mas como de todos os outros dias lá fui de “acelera mini-saia” para a Escola Secundária de Benavente…Eu e os meus colegas do Biscainho que também lá estudavam…fomos todos,porque íamos sempre ás aulas como “meninos” bem comportados que éramos.
Pelo caminho,Biscainho,Foros da Charneca,Barrosa,não demos por nada…nunca acontecia nada de realce naqueles sítios,que poderia acontecer naquele dia?
O meu pai,por sua vez tinha saído bem cedo com mais “um frete” para um Hospital de Lisboa.
Chegados a Benavente,”aceleras” arrumadas e espanto geral…Muitos poucos colegas lá estavam,as portas da Escola fechadas,contínuos nem vê-los…só lá esta o professor “Meia Leca” que leccionava,salvo erro,Química e Laboratório de Química e que morava em Vila Franca…do professor Ganhão,da professora Isabel,da professora Benvinda,do Rodrigues,do Cardador…nem sombras.
O “Meia Leca”,professor com letras grandes,amigo de todos os alunos,no seu “calão” típico,esperava á porta da Escola e disse-nos : “Seus Índios,podem tirar o cavalinho da chuva que vão voltar para trás,não há aulas…houve para aí uns “gajos” que fizeram uma Revolução…vocês não sabem o que é isso,pois não…vá,toca a andar para casa que esta gente ainda acaba aos tiros e eu a vocês quero-vos vivos…temos “ponto” para a semana…” “…só não sei se me deixam passar a portagem de Vila Franca,para voltar a casa…Revoluções!!!”
Estava dito.Voltamos para casa,todos e o “Meia Leca”,baixinho,careca,com a sua pasta de Professor na mão,lá ficou á porta da Escola…para mandar os que chegassem para casa,dizia ele quase gritando.
Voltei para casa…o meu pai estava também já em casa pois não o tinham deixado passar para Lisboa nas portagens de Vila Franca…a televisão,cuja emissão só costumava abrir pela tarde,já tinha “aberto” a emissão,embora só tivesse o logótipo da RTP…as rádios só passavam música de orquestra…o dia continuava com nuvens negras a ameaçar chuva…
Assim acabou o dia…nuvens negras,nós no “Joaquim Martins” a beber uma gasosas…e por fim,um comunicado duma tal de Junta de Salvação Nacional…”mantenham a calma,houve um golpe de estado e foi restituída a democracia…os Portugueses devem manter-se calmos em suas casas…Lisboa está cercada,o presidente Américo Tomás e Marcelo Caetano detidos…”
E continuamos a ouvir música de orquestra…”Grândola,Vila morena” de Zeca Afonso…
As imagens do “Meia Leca” e do céu negro,negro…ficaram.
A revolução passou.

sábado, julho 17, 2004

Cruz suástica

1973
Hoje já não é assim e felizmente que não ; mas 32 anos atrás as coisas eram bem diferentes.
Estávamos em 1972,vivíamos num regime de ditadura,com perseguição aos comunistas e a todos aqueles que por serem liberais tentavam,digo tentavam,expremir a sua opinião e as suas tendências políticas…Havia o forte de Peniche,o forte de Elvas,o Tarrafal,os calabouços da PIDE-DGS e sei lá que mais…o regime de Américo Tomás,Oliveira Salazar e posterirmente de Marcelo Caetano era um regime dito e na verdade fascista,um regime com os seus muitos nãos,mas com uma ou duas coisas que hoje seriam óptimas para a actual Sociedade…mas essas poucas coisas boas serão para outras estórias.
Estudava eu em Benavente nessa altura e o meu conhecimento sobre o que era ou não era o fascismo era quase nulo,para não dizer nulo.Sabia que havia guerra no Ultramar,sabia que havia pessoas a ouvir ás escondidas a “Rádio Rússia” e mais nada,a informação que chegava á população,estudantes incluídos,era simplesmente censurada,logo,que sabíamos nós???
Que um dos símbolos nazis,regime fascista de Adolf Hitler,que tinha estado envolvido e derrotado em duas Guerras Mundiais,era uma cruz suástica isso eu sabia…e sabia porque já tinha visto fotos de aviões de guerra “Messerschmidt” e “Heinkel” da Força Aérea Alemã,a “Luftwaffe”…
Agora 32 anos atrás eu ter um blusão de cabedal preto e nas costas ter desenhado a Cruz Suástica alemã,andar de “mini-saia” ( “acelera” de marca Sachs,muito em voga naqueles anos ) pelas ruas da vila com o blusão vestido,bom isso só podia vir a dar problemas.
Foi o meu colega e amigo Bernardo Granadeiro,neto de Jaime Cortesão e também ele “desterrado” para a escola de Benavente que me avisou : “Despe essa me###...não andes com essa me### por aí…ainda vás dentro,pá…”…”O meu avô disse-me que não nos devemos meter em problemas,pá…”
“Porquê,pá…?”…”Isto é somente uma cruz,fica fixe aqui…que mal tem…?”…”Esta Sachs não é uma moto,é uma “acelera”,mas assim até pareço um Easy Ryder…” dizia-lhe eu.
Isto num dia…dois dias depois ao dar as minhas voltas de “acelera” pela vila,fui interceptado por dois GNR’s,identificado e levado para o Posto de Benavente…Aí,pelo Comandante do Posto,novamente…”Nome…? Idade…? Pais…? Donde és…? Estudas…? Porque usas isto…? Sabes o que é isto…? Não deves usar,não podes usar…!!...”
O Bernardo tinha razão…Até cadastrado na GNR fiquei…Foi a primeira “detenção” de um tipo com 15 anos na altura…
Ainda hoje não percebo,eu até estava a fazer “publicidade” ao regime fascista da altura,portanto…Agora,imagino eu o que seria se me tivesse dado na cabeça,colocar o desenho da “foice,martelo e estrela” nas costas do blusão… Imagino!!!
Ficou a cruz suástica…Ficou a primeira “detenção”…Ficou a estória…


terça-feira, julho 13, 2004

Os "bonecros da bola"

Coleccionar os “bonecros da bola” era um “must” na altura em que fui para a Primária e nos 4 ou 5 anos seguintes,sempre que saía uma colecção lá andávamos todos numa azáfama,aproveitando todos os intervalos e alguns até faltando ás aulas para irmos ao Manel Lopes,taberna,depois café e supermercado e mais tarde somente supermercado,mas que hoje já fechado,para comprar os “bonecros”.
Os “bonecros” vinham a enrolar um rebuçado e custavam 1 tostão ; eram esses mesmos “bonecros” que traziam uma senha de prémio,ora com uma caderneta para se colar os ditos,ora com uma bola de borracha,ora com um cromo gigante e vinham dentro duma lata metálica ; o prémio final da colecção era uma bola de futebol de “catchungo” que fazia as delicias nas nossas jogatanas no final da tarde,no largo da Igreja e em frente ao Manel Lopes e ao Joaquim Molero.
Era difícil completar a colecção e em geral aquando da compra dos rebuçados,pedíamos á senhora Maria que tirasse do fundo da lata “se faz favor”,na tentativa de sair o número da “bola”…sim,porque a bola saía de duas maneiras ; ou com a caderneta completa ou saindo o número com esse prémio…Era giro…Os “bonecros” repetidos trocávamos com os nossos amigos por outros que não tivéssemos,mas já ai se jogava duro ; os “bonecros” difíceis eram apostados ao “abafa” ou seja,numa superfície plana fosse ela qual fosse,menos terra batida,viravam-se dois “bonecros” de figura para baixo,um em cima do outro e depois alternadamente,um e outro apostante batia com a mão em concha nos “bonecros”…quem virasse os dois ficava com eles!!! Ás vezes era doloroso perder um que nos tinha dado imenso trabalho a conseguir,mas jogo era jogo…
Os “bonecros” eram colados na caderneta com cola,quem a tivesse,ou quem não tinha,tal qual eu,com uma mistura de farinha com água que ao secar deixava os “bonecros” colados na página da caderneta…Quem não tinha cão caçava com gato...
“Rebentar com a lata” chamávamos quando nos juntávamos e com os $$$ que podíamos comprávamos o resto dos “bonecros”,prémios finais incluídos,óbvio…
Eram giras as colecções e eu só embirrava era com os “bonecros” do número,eram em geral o Faneca ou o Bandeira do Barreirense ou o Iaúca do Belenenses e nunca me saíam a mim…
Ficaram as grandes jogatanas de futebol e as colecções…
Tantos anos…

sexta-feira, julho 09, 2004

Banda desenhada

Aprender a ler é o passo mais importante,mas a o que vem a seguir não o é menos,porque o prazer da leitura que se possa vir a adquirir é ainda mais importante.
Aprendi a ler sim,mal,mas aprendi.E quando já dominava a leitura o meu pai presenteou-me com as assinaturas do “Jornal do Cuto” e do “Mundo de Aventuras”…eu sei o que vocês pensam!!!
Sim,era a chamada “literatura de cordel”…mas como foi a primeira a seguir aos livros escolares de História,Português,etc.,etc. para mim foi o melhor que podia ter acontecido,pois até tinha desenhos,que mais tarde acabei por reconhecer como “BD”,banda desenhada.Gostei e ficou até aos dias de hoje.
Foram anos e anos a coleccionar o “Mundo de Aventuras”,porque o “Jornal do Cuto” acabaria pouco tempo depois de eu o ter conhecido.Depois vieram o “Falcão”,o “Ciclone”,eu sei lá.Até sabia que o “Mundo de Aventuras” era propriedade da extinta Agência Portuguesa de Revistas,que o director se chamava José de Oliveira Cosme e que a sede e distribuidora era na Rua Saraiva de Carvalho em Lisboa e que tinha escritórios em Lisboa,Porto,Lourenço Marques,hoje Maputo e Luanda…o que eu sabia daquilo…da “literatura de cordel”…
Os heróis também eram os daquele tempo…o Mandrake,o Tarzan,o Rip Kirby,o Super-Homem,o Cisco Kid,o Zorro,o Garth,Os Persuasores,o Príncipe Valente,Olac o Gladiador,Flash Gordon,Garrett,o Major Alvega e tantos outros,tantos outros…
Com o passar dos anos e até á sua extinção coleccionei avidamente o “Mundo”,ainda hoje,devidamente encadernados os volumes são folheados,mas refinei um pouco o gosto pela Banda Desenhada,passando ao Tintim de Hergé,ao Lucky Luke de Morris e Goscinny,ao Blake e Mortimer,ao Michel Vaillant,ao Corto Maltese,ao Astérix e outros tantos demais que ficam para uma segunda escrita.
Ganhei o gosto pela “BD” e pelo seu coleccionismo…ainda hoje!!
Só tive um “contratempo”…a minha mãe ao encontrar um dia tanto “papel” velho e amarelado dentro duma arca de que precisava,prestou-me um “desfavor”…Queimou parte daquelas precisiodades,para mim claro e foi só porque cheguei a tempo de ver alguns dos meus “Mandrakes” em chamas numa bela duma fogueira,salvando ainda a maior parte com a “ajuda divina” de uma mangueira ligada ao depósito elevado…
Insconscientemente,esteve á beira de originar um segundo Holocausto…
Está perdoada…
Ficou o “vicio da BD”…

quinta-feira, julho 08, 2004

Primeiro dia na Primária

Recordo que entrei para a escola primária do Biscainho com sete anos,a professora era a Luisa Norte,eramos muitos e eu até achei aquele primeiro dia giro.
Estava um dia de Outubro,7 de Outubro,com muito nevoeiro.O meu avô Juquim já fazia aguardente e eu nessa manhã antes de ser "levado" para a escola,ainda andei a saltar sobre o "engaço" já "queimado".E lá me "levaram" para a escola.
Sobre esse dia é o que mais me recordo,não falando claro,na "mistica" bata branca que era obrigatório levar...pois é,também me lembro de ter tomado um grande banho no alguidar enorme que substituia a banheira,sim,porque naquele tempo banheira não havia.
Levei uma mala de escola nova,com um caderno,lápis de carvão e uma borracha...Para que era aquilo? O meu pai tinha-me dito que era para escrever e apagar...Acreditei como sempre o fazia...
Já era grandote,porque naquela altura já eramos todos grandes e aqueles mais velhos que já la andavam ainda maiores eram.
Lembro dos "manos Galfilhas",o Fernando conhecido pelo "Nam" e o Norberto conhecido pelo "Bé" e na rua a ver chegar os "caloiros" lá estavam o Avelar,irmão deles e conhecido pelo "Sara"...e lá estavam também o "Toino" Lopes,o "Juquim" Lino,o "Juquim Barbata",todos veteranos da Primária...comigo entraram muitos e já nem me lembro de todos,mas o "Juquim Camoxo",o "Custódito",o "Xico João",o Fortunato Delfim...soube o nome deles todos mais tarde,muito mais tarde,afinal era o meu primeiro dia de escola Primária e...não me recordo de mais...ah sim,lembro que tinha as unhas grandes porque arranjei uma valente "birra" para não as cortar com a tesoura de barbeiro do meu pai...e a coisa parecida com corta-unhas ainda era de fugir mais depressa...afinal...
Estórias...

Já passaram 40 anos...quase uma vida!


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